quarta-feira, 25 de abril de 2012

Comlurb tem gari pai de santo para recolher macumba


Adeptos de religiões afrodescendentes que “arriam” despachos na floresta do Alto da Boa Vista tem seus trabalhos de feitiçaria recolhidos por um babalorixá da Comlurb. O funcionário se chama Alexandre Borges, ele tem 29 anos e é gari há dois anos.
Morador de Nova Iguaçu, ‘Pai Alexandre de Oxóssi’ recebeu a missão de recolher velas, galinhas e farofa, entre outros ingredientes, quando os colegas de vassoura revelaram a fé dele para os seus superiores. Desde então, a Comlurb o convidou para esse serviço específico: limpar a sujeira causada pelos despachos.
“Contaram ao meu chefe que eu sou pai de santo e ele perguntou se eu gostaria de fazer esse serviço. Alguns garis, principalmente os evangélicos, têm medo de pôr a mão em pratos e alguidares” conta Alexandre.
Rotina de trabalho
Os trabalhos de Alexandre no Alto da Boa Vista começam cedo. Imagens de santos quebradas, por exemplo, são jogados fora. As inteiras ele doa aos religiosos que fazem cultos com atabaques pela região. “Para retirar as oferendas eu me abaixo e peço licença em voz alta. Quando vejo a comida de um orixá, peço ‘agô’ (perdão), coloco a tigela no saco de lixo e o deixo num canto para o caminhão levar. O difícil é limpar padê (farofa de dendê), que voa no gramado”, diz.
Trabalhos recém-depositados são preservados. “Quando ainda há velas acesas espero até o dia seguinte porque a oferenda está muito fresca”, conta o gari.
‘Não desfaço o trabalho de ninguém’
A experiência como babalorixá é suficiente para que o gari Alexandre Borges possa pôr a mão até em trabalhos de feitiçaria, como o da foto de um casal, já encontrada. “Vejo fotos, nomes e até bonecos espetados com agulhas. Só não desfaço o trabalho de ninguém. Quem faz o mal vai arcar com as consequências”, diz.
Por via das dúvidas, pai Alexandre foi aconselhado pelo pai de santo dele a fazer um ebó (descarrego) de seis em seis meses. “É para não respingar nenhuma energia negativa em mim”, conta ele, que, há quatro anos, abriu um terreiro de candomblé em Cabuçu, Nova Iguaçu.
Segundo Carlos Roberto da Silva, um gerente da Comlurb, o Alto da Boa Vista caracteriza-se pela grande quantidade de oferendas nas vias. Ele lembra que a limpeza sempre foi realizada. “Encontrar quem sabe os fundamentos religiosos foi importante, pois ele sabe fazer a remoção e tem a maior facilidade em abordar os adeptos e pedir para não deixarem materiais espalhados, por exemplo”, diz o gerente.
Fonte: Extra

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